Como se mantém o Estado Islâmico?

O Estado Islâmico funciona como uma corporação, tendo como principal negócio o petróleo, detendo o monopólio em uma área com mais de 12 campos de exploração. Só faz negócios em dinheiro e vive de extorquir seus “clientes”. O EI detém 60% da produção de petróleo da Síria. Segundo estimativas, o petróleo rende cerca de US$ 2 milhões por dia para a facção terrorista. Clique em leia mais e veja a matéria completa…

 

Mas quem compra o petróleo “roubado” pelo Estado Islâmico?

Todo mundo, até o governo do ditador Bashar al-Assad, inimigo dos islamistas.

A população civil na Síria, os curdos, que controlam o norte do país, o governo Assad, a oposição, todos dependem do petróleo vendido pelo EI. E muita gente transformou isso num grande negócio: compram do EI com deságio e contrabandeiam o combustível barato para a Turquia. Em algumas cidades turcas na fronteira com a Síria, moradores usam tubulações de plástico enterradas no solo, originalmente utilizadas para irrigação, para contrabandear o petróleo sírio. Caminhões-tanque vêm de toda a Turquia para comprar combustível barato. A polícia turca fazia vista grossa, mas, nos últimos meses, pressionada pelos EUA, começou a fechar o cerco, o que apenas tornaram os contrabandistas mais criativos, que passaram a atravessar a fronteira a pé, montados em mulas ou cavalos, levando galões de petróleo. Em um dos maiores campos sírios sob controle do EI, o de Al-Omar (que foi bombardeado por caças franceses poucos dias antes dos ataques em Paris), há uma fila de mais de 5 quilômetros de caminhões-tanque, segundo reportagem do “Financial Times”.

Esses caminhões compram o petróleo e vendem para contrabandistas ou direto para refinarias. Muitas das instalações de refino foram bombardeadas pela coalizão, então o EI começou a comprar refinarias portáteis da China, o que logo foi descoberto e foram bombardeadas também. Hoje, restam poucas instalações, e muitos sírios “empreendedores” montaram refinarias de fundo de quintal, em que queimam o combustível e usam buracos no chão, resultando em diesel de péssima qualidade, mas com o preço a um terço dos “oficiais”.

O EI tem muitos gastos, porque mantém um Estado: tem que pagar salários de servidores públicos, subsidia pão para a população e precisa usar cada vez mais combustível em suas operações militares. Mas o EI tem a vantagem de ter diversificado seus negócios. A facção lucra cerca de US$ 12 milhões por mês com “impostos” (eufemismo para extorsão) cobrados nas cidades que domina, segundo estudo de Charles Lister, da Brookings Institution.

 

Financiamento do Estado Islâmico

Contrabando de petróleo

O EI assumiu o controle de vários poços na Síria e no Iraque e vende o combustível a baixíssimos preços dentro dos dois países e para a Turquia.

‘Impostos’

Nas cidades dominadas pela facção, como Mossul e Raqqa, a população precisa pagar taxas para ter eletricidade e outros serviços públicos.

‘Jizya’

Cristãos vivendo em cidades dominadas pelo EI pagam a taxa chamada “Jizya”, para que não sejam mortos por não serem muçulmanos.

Resgate

EI sequestra estrangeiros, cidadãos sírios e iraquianos de classe média e pede resgate. Os sequestros renderam mais de US$ 40 milhões ao EI no ano passado. Os Estados Unidos e o Reino Unido se recusam a pagar resgates. Mas a França, por exemplo, teria pago US$ 18 milhões em abril do ano passado pelo resgate de quatro reféns franceses.

‘Dízimo’

Muitos dos funcionários públicos em áreas dominadas pelo EI ainda recebem do governo e são obrigados a pagar um “dízimo” ao EI.

Contrabando de obras de arte

Militantes do EI saqueiam antiguidades de museus ou monumentos em cidades que controlam e as vendem no mercado negro. Segundo a Unesco, o EI ocupa mais de 4.500 locais de escavação arqueológica.

Doações

Seguidores da forma mais radical do islamismo, o wahabismo, de países como Arábia Saudita e Kuait fazem doações à facção.

Crowdfunding

Membros do EI usam as redes sociais para pedir doações por meio da compra de cartões pré-pagos de telefone, cujo número é enviado por Skype. Há também programas de fidelidade: para cada doação de 50 dinares iraquianos, equivalentes a 50 balas de rifle de atirador, o doador receberia o “silver status”, e 100 dinares, que compram 8 balas de morteiro, equivalem ao “gold status”.

É muito difícil ter estimativas seguras, mas cálculos de analistas indicam que o EI faturou pelo menos US$ 1,2 bilhão no ano passado, a grande maioria proveniente da venda de petróleo. Como comparação, o Taleban chegou a arrecadar US$ 200 milhões por ano no Afeganistão com tráfico de drogas e contrabando de madeira e minerais, no apogeu da facção. Contra a Al Qaeda, sanções financeiras eram mais eficientes, porque os doadores muitas vezes usavam o sistema financeiro internacional.

No EI, só dinheiro vivo circula, normalmente por meio de portadores, e a maioria das transações se dá dentro da Síria e do Iraque. “As fontes de receita do EI são profundas e diversificadas. Com exceção de organizações terroristas bancadas por Estados, o EI é provavelmente a facção terrorista com maior poder financeiro que nós já enfrentamos”, disse em discurso no fim do ano passado David S. Cohen, subsecretário do Tesouro americano para Inteligência Financeira e Terrorismo.



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